Todas são um

Todas num só ser.

Uma bebê, nascida em 2050, é criada por uma senhora (52a) que a educa alegando que é sua avó materna. E que sua mãe morreu no parto.

A senhora (avó) cria a menina até os 16 anos (2066), depois desaparece, sem deixar pistas.

Esta criança cresce, se casa e engravida, tem uma filha aos 22 anos (2072), que nasce morta. Passa a vida trabalhando como física e envelhece.

Ao completar 50 anos (2100), desenvolve uma máquina do tempo.

Volta até o momento que havia engravidado para evitar que sua filha morresse no parto. Porém, descobre uma trama que prova que a bebê não morreu e sim foi levada pelo pai da criança para um orfanato, com a ajuda de um homem misterioso. Acreditava que o companheiro não queria a filha, já que, secretamente, trabalhava numa “facção” criminosa.

A senhora sequestra a criança do orfanato e volta de novo no tempo para 2050, afim de fugir desta mesma “facção” que passou a persegui-las.

A senhora e a criança são criadas se mudando de cidade em cidade, por medo de que algo acontecesse contra elas.

A senhora diz pra criança que ela é sua avó e que sua mãe (a filha da senhora) morrera no parto desta menina.

Ao completar 16 anos, a senhora desaparece.

E o ciclo se fecha.

Mas a senhora não desapareceu simplesmente. Ela continuou secretamente trabalhando com sua máquina do tempo, e descobre que uma organização governamental quer se apoderar de sua tecnologia.

Para proteger sua neta, some.

Durante 10 anos recruta outros cientistas e alguns mercenários, já que usam a tecnologia para fazer dinheiro de forma ilegal, com a desculpa de proteger seu aparato, muito perigoso em mãos poderosas. Este grupo passa a ser conhecido como “facção”.

Um jovem rapaz tem pela cientista uma admiração fora do comum e ela o toma como seu protegido e o prepara para sua mais importante missão. Voltar no tempo e conhecer uma moça de 20 anos, em 2070, e protegê-la a qualquer custo.

Mas eles se apaixonam, se casam e ela engravida. Dois anos após se conhecerem.

Ao descobrir quem sua esposa realmente era, ele entende o risco que correm, por saber que os inimigos de sua mentora desenvolveram também uma outra máquina para viagens no tempo.

Para proteger sua filha não nascida, prefere entregá-la a um orfanato do qual ele mesmo veio e dizer à sua mulher que a filha deles falecera logo após o nascimento.

Acreditava que assim a criança estaria livre do perigo.

Triste pela perda da bebê, sua esposa aceitou se mudar para longe, sem saber que estava sob a escolta do próprio marido.

Um dia, dois anos após se mudarem, ele some. Para ela, ele não aguentava mais sua vida. Pois vivia tenso, em silêncio.

Para não pensar em seus dramas, ela passa a se dedicar obsessivamente aos estudos de física, durante anos.

E o ciclo se fecha.

Mas o marido não fugiu simplesmente.

Ele foi sequestrado por um grupo dissidente da facção. Sofreu lavagem mental, foi treinado exaustivamente e levado para múltiplas viagens no tempo, o que alterou gravemente sua memória. Chegando a despersonalizar-se. Com o tempo, ele se convence que o mais prudente a ser feito, seria eliminar a pessoa que criou a viagem no tempo.

Essa pessoa era uma mulher.

Durante as viagens que fazia, ia eliminando todos que de alguma forma conheciam e potencialmente poderiam usar a tecnologia de forma terrível. Ao menos pelo crivo de sua ética.

Agia de forma solitária e secreta, como agente múltiplo infiltrado.

Seu objetivo estava cada vez mais perto. E muitos perderam a vida pelas suas mãos.

Ao encontrar a velha senhora, agora com 90 anos, ele entende que não adianta matá-la naquela idade e a força a contar sua história, para assassiná-la ainda bebê.

Mas ela morre antes, por conta de sua tortura.

Usaria agora sua última chance de pular no tempo. Pois não existiam mais máquinas funcionantes. E só conseguira o nome de um hospital e uma data do passado.

Foi na sorte, sabendo que não voltaria mais.

No último salto temporal, já mais envelhecido e debilitado, consegue chegar à tal maternidade, mas ao entrar encontra-se com um jovem angustiado, que aos prantos confidencia que precisava de ajuda para levar sua filha, pois esta corria risco de morte. E nem nascida era.

Ao ver a mulher grávida ele entende quem era este casal e sua memória retorna como um raio, estourando sua cabeça. Dizimando sua noção de realidade. Passa assim, tomado pela força desta epifania catártica, a acreditar que sua última e mais redentora missão seria ajudar este homem a esconder a bebê num orfanato distante.

E, de longe, o espião assassino, vira um protetor eficaz. Permitindo que a menina cumprisse seu caminho.

Assim foi até onde sua saúde permitiu.

Como uma sombra, um anjo e uma testemunha, de sua própria história.

Já a bebê cresceu e seguiu, para sempre.

Em tempo:

O orfanato para o qual ela foi levada e que também foi o orfanato de onde o homem havia sido retirado, na verdade, era utilizado como fachada para experiências genéticas de clonagem humana e o próprio material cromossômico da mulher (ainda quando um bebê recém chegado) foi utilizado numa futura experiência de troca de gênero, sendo feito assim uma clonagem idêntica geneticamente a ela, porém, com uma substituição de um cromossomo sexual feminino por um masculino, gerando assim um clone humano de um menino. Este menino é o homem da nossa história.

Como a cereja do bolo, confeitado grotescamente pelas mãos do destino, o cientista responsável por esse núcleo de pesquisas genéticas era exatamente da “facção” e ninguém menos do que o segundo homem em comando que, por fim, era o próprio protegido da mulher.

Conclusão:

Todas as pessoas citadas na história são um só.