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Mostrando postagens de maio, 2022

Estações (2016)

       Não tenha vergonha dos anos que a vida te levou. O tempo inexorável corre relativamente mais veloz a cada era. Não sofra pelo que não é mais teu. Tudo se vai. Só a ilusão perdura. Fica o encanto, a sensação mágica de domínio. De que a vida te deu amores, parentes, filhos, sonhos. Mas a vida nada entrega. Ela somente empresta ilusão. Então delire comigo. Plane comigo. Planemos. Voemos por cima dos nossos medos. Aperte minha mão. E vamos. Sem pousar, beijemos nossas crianças. Luzes e chãos. Nos olhamos, sentimos a brisa. Elas crescerão e se multiplicarão. E nossas mãos enrugarão. O fluxo as farão mais fracas e medrosas. Mas temos em nós a vida ainda. Aquela que ainda sobra. A dona da ilusão. Essa que resolvemos sonhar juntos.      Não são os anéis. Nem as coroas. Não são os pecados. Nem as glórias. São somente os sonhos que sonhamos juntos. Aqueles que, sem querer, nos deram nossa vida uníssona. Mesmo que o som de hoje sej...

Procusto

       Um dos mais emblemáticos personagens da mitologia grega é Procusto, impiedoso bandido que possuía uma cama de ferro de seu exato tamanho. Divertia-se obrigando os viajantes que capturava a deitarem-se nessa tal cama; se maiores, cortava-lhes as pernas, se menores, esticava-os até caberem exatamente no leito. Em outras palavras, matava-os qualquer que fosse sua altura, até que o heroi Teseu logrou prendê-lo, aplicando contra ele o mesmo suplício: deixou-lhe de lado, assim cortou-lhe a cabeça e os pés. O mito do leito de Procusto é muitas vezes utilizado como uma metáfora para situações em que se pretende impor um determinado padrão ou querer a todo o custo obrigar que algo encaixe numa matriz pré-estabelecida ou pré-determinada, e, por isso, representa a intolerância humana. Pode ser utilizado para identificar aqueles que não prosperam, nem deixam os outros prosperarem. É o que prega os defensores cegos do politicamente correto, os negacionistas do método ci...