Estações (2016)
Não tenha vergonha dos anos que a vida te levou.
O tempo inexorável corre relativamente mais veloz a cada era.
Não sofra pelo que não é mais teu. Tudo se vai. Só a ilusão perdura.
Fica o encanto, a sensação mágica de domínio.
De que a vida te deu amores, parentes, filhos, sonhos.
Mas a vida nada entrega. Ela somente empresta ilusão.
Então delire comigo. Plane comigo. Planemos.
Voemos por cima dos nossos medos. Aperte minha mão.
E vamos. Sem pousar, beijemos nossas crianças. Luzes e chãos.
Nos olhamos, sentimos a brisa. Elas crescerão e se multiplicarão.
E nossas mãos enrugarão. O fluxo as farão mais fracas e medrosas.
Mas temos em nós a vida ainda. Aquela que ainda sobra. A dona da ilusão.
Essa que resolvemos sonhar juntos.
Não são os anéis. Nem as coroas.
Não são os pecados. Nem as glórias.
São somente os sonhos que sonhamos juntos.
Aqueles que, sem querer, nos deram nossa vida uníssona.
Mesmo que o som de hoje seja o choro de crianças.
Estas são parte dos nossos sonhos. Lindas e carnudas. Fluidas e risos.
E, de mãos dadas, passamos os lábios em suas frontes. Sentimos seus cheiros.
Orgulhos da nossa carne. Nos olhamos e sabemos que fizemos bem-feitos.
E nossas mãos de tão únicas, se misturam. São partes de um ser só.
Nos unem. E fazem de nós dor e prazer. Vida e sonho. Beijo e lágrima.
Fazem nosso voo mais leve. Flutuamos na força bruta do nosso amor.
E resultamos num vigor heroico que tenta vencer o cansaço.
Nos dormimos, com eles no meio, mas nossas mãos se chamam.
Mesmo de costas, se chamam. Se tocam e se amam.
Dedos que se conhecem e se beijam. Meu corpo e o seu não são mais aqueles.
Nossas vidas não são mais as nossas. São mais. E isso é bom.
Não temos hoje o tempo da nossa ideia. Mas os sonhos são assim.
Sonháveis. Nem sempre perfeitos. E isso é grande.
Pois é nossa história em si escrevendo. Nossos sonhos em si sonhando.
Nossas vidas em mãos se dando. Se abraçando. Tateamos um ao outro.
Pois sonho bom traz o medo de acordar.
E os anos passarão. Mostrando que sonho nenhum pode ser bom o suficiente
Se não for para sonhar com você. Então não ligue para os que já foram.
Voemos pelas eras que ainda virão. Nelas se darão a melhor parte dos sonhos.
As partes que sonhos ainda são. Os voos. As ilusões. Os dedos. As mãos.
Nossos filhos. Nossos risos. Nossas peles e nossos tatos.
Nossa história, se escrevendo entre memórias e sonhos.
Entre a ilusão perdida e a que está por vir.
Então vem comigo, mais uma vez.
Porque de mãos dadas é mais gostoso.
Porque hoje minhas mãos só significam se forem beijando as suas.
A melhor parte de mim é o que minha mão toca.
Sua parte minha em mim. Se entrelaçando, como teatro dos nossos corpos.
Temas de nós mesmos. Elas se entendem. Se amam.
Pedi sua mão. Ganhei minha vida.
Meus sonho hoje é o nosso.
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