SORTE
Ao menos nos últimos 14 bilhões de anos venho dado sorte.
São muitos acasos astrofísicos, infinitos. Para chegar no que esse grupo vem chamando de Era Comum. E em 2020, já me identifico há mais de 40 ciclos solares. Digo do planetinha onde minha identidade habita e orbita este dito sol. É muita sorte.
Afora a improvável possibilidade gênica de, eu só ser eu, porque um específico espermatozoide, de curto tempo de individualismo, encontrou um específico óvulo. O resto continua sendo sorte, evolução biológica. Além de ter vindo num espaço geográfico privilegiado socialmente e ecologicamente. Num tempo que me permitiu desenvolver habilidades múltiplas e conhecer tecnologias como esta que uso. No caso a linguagem.
Então, se minha consciência vive 100 mil anos ou mil anos, será que faz diferença? E olha que mal vivemos cem ciclos. Nada dura muito na memória. Seletamos. E recriamos realidades. Tempo é espaço. O resto é ilusão de construtos mentais. E, com quarenta ciclos, estou no início do declínio de minhas memórias, de minha capacidade de apreensão de conhecimento desse verso. Posso continuar produzindo conhecimento para as gerações vindouras. Se é que isto vale algo no contexto de um verso em múltiplos possíveis. De mais de 14 bilhões de anos. De tantos que entropicamente ainda existirão.
E, como ainda não estão lendo a página de cima, aquela para ser lida após o fim da minha consciência corpórea (e única, diga-se de passagem), aproveito para celebrar a vida. Esse incrível acaso terráqueo. Ao menos até hoje, apesar de todas as expectativas e probabilidades exobiológicas. Ainda somos sozinhos. Nesta rocha molhada.
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Parabéns.